Quando criança e adolescente eu não gostava do dia do meu
aniversário. Mas pelo menos era um dia para comer bolo e outras guloseimas...
Dia para encontrar os amigos e parentes... Na adolescência, amigos me alegravam
(eram bons companheiros que se esforçavam para me agradar e me alegrar).
Aprendi a gostar do dia do meu aniversário ouvindo o relato
de minha mãe dizendo sempre que é o dia mais feliz da vida dela!
No dia do meu aniversário eu era invadido de imensa
tristeza. Isso desde tenra idade (chorei muito na festa do meu 2º aniversário e
somente no 5º eu consegui demonstrar alegria). Eu não me sentia deste mundo.
Era como uma revolta por está na Terra e uma saudade imensa de um mundo melhor para
o qual sei que voltarei... Várias vezes pensei, “eu deveria ter escolhido outro
Planeta!”... E tinha vontade de ser levado por uma nave espacial alienígena!...
E esse vínculo alienígena foi captado por colegas de sala de
aula e por volta de quando eu tinha 14 anos me apelidaram de marciano... Eu não
me abusava com isso. Uma amiguinha gostava de cantar na sala de aula a música
gravada por Elis Regina: “Alô! Alô! Marciano! Aqui quem fala é da Terra!”... Creio porque eu era muito sonhador... Um dia
desses eu a reencontrei e comentei sobre isso e ela pedi desculpas. Mas eu
esclareci que gostava.
Minha família fazia festas comemorativas dos meus
aniversários nas quais, em tenra idade, muitas vezes eu me senti deslocado.
Tinha a presença de familiares e amigos, colegas. E pensava: “se não tivesse
guloseimas, bolo, refrigerantes, será que essa turma toda estaria aqui? Viria
somente para me desejar felicitações e mostrar a simplicidade de amizade?”
Quando cortava o bolo e acabavam as guloseimas, todos iam embora... E isso era
chocante para uma criança sensível como eu era...
Minhas tias Luiza e Irací caprichavam nos bolos. Luiza, que
eu chamava Pupu (eu apelidava minhas tias), criava sempre formas diferentes de
bolos confeitados, dentro dos temas das festas (bolo em forma de violão, quando
o tema da decoração foi música; bolo em forma de carrossel, quando o tema foi
parque de diversão; bolo em forma de urso; bolo em forma de coelho, etc)... E
eu sempre gostei muito de bolo, principalmente com os recheios que elas
preparavam e eu escolhia as receitas, lia várias e escolhia...
Com o tempo, sem as festas, ficaram somente meus pais e
minhas tias para me felicitar e abraçar e alguns poucos amigos que lembravam...
Eu estava certo.
Mas deveria ser chato para os convidados das festinhas,
quando de repente o aniversariante ficava sério ou chorava e mudava a
programação musical, colocando um disco de música erudita ou ouvindo discos de
orquestras tais como Paul Mauriat, Mellachrino, Clebanoff... Isso no auge da
discotec, e eu sempre detestei essas modas musicais passageiras alienantes!...
Minhas melhores comemorações de aniversários foram quando eu
estava em ação teatral (em ação com teatro de bonecos, com alguma peça teatral
ou recital poético). A Arte me eleva para dimensões superiores além desencantos
terrestres...
Atualmente, após 49 anos de comemorações (aprendi a
comemorar este dia 15 de março), a grande alegria é acordar neste dia e receber
o abraço da minha mãe afirmando, “este é o dia mais feliz da minha vida.” Aprendi
com ela a gostar deste dia! Sempre bons exemplos e bons ensinamentos de minha
mãe!
Ela é um fenômeno. O parto foi difícil, minha mãe teve
problemas respiratórios e o médico teve que me puxar do útero dela com um
fórceps e sem anestesia até mesmo para pontear após. E minha mãe o tempo todo
rindo, feliz. A felicidade de ser mãe estava acima das dores de um parto desse
tipo.
Eu quase falecia. Fui tratado como um afogado, pois engoli
muito líquido amniótico. A incubadora do Hospital Regional dos Palmares estava
quebrada e uma amiga de minha mãe, Socorro Portela, me enrolou um cobertor e me
aqueceu durante várias horas até quando eu não estava mais em perigo. Além
disso, tive hemorragia no umbigo, perdi muito sangue.
Quem estava acompanhando tudo também foi Painho. Ele que me
aqueceu e cuidou da minha respiração no momento de mais emergência do parto,
ajudando o médico. Minha tia, Luiza, mais nervosa que minha mãe, ficava
questionando como a parturiente se mantinha calma e rindo... Edilton Ramos
trouxe minha mãe e eu, num jipe de volta para casa.
Encontro bonito foi com meus avós maternos, Rosalvo e
Isabel. Pessoas lindas, símbolos e exemplos de grande amor para todos da
família (um casamento de mais de 60 anos sem discussões e sem brigas). Fui
muito bem acolhido e amado por todos da família: tios, avós, primas e primos. E
a família extensa que foram meus vizinhos queridos, meus irmãos, pois fomos
criados juntos. Eu era uma criança sem irmãos e agreguei uma família: Janete,
Janeide e Ronaldo, companheiros por vários anos até além adolescência (esses
não precisavam de bolos e guloseimas para se aconchegar ao meu convívio...
kkkk)...
Fui batizado recém-nascido tendo como padrinhos Luiz Portela
de Carvalho, um amigo de Painho e respeitado político local. A esposa dele
minha madrinha. O respeito a esse vínculo espiritual eu tinha desde criança. Eu
tinha visão sobre Padrinhos diferente de alguns colegas. Eu via crianças
interesseiras pedindo presentes e dinheiro aos padrinhos, mas eu sabia que um
batismo é um vínculo espiritual e nunca pedi nada material ao meu padrinho,
mesmo ele sendo um político que governou a Cidade dos Palmares. Várias vezes
ele comentava ao me encontrar, “eu sou seu Padrinho!”... E eu o reverenciava
com respeito...
Ensinamentos espirituais dizem que família é karma. Ainda
bem que tive um bom karma e também bons amiguinhos de infância. Guardo com
carinho o respeito dos colegas de sala de aula de onde estudei. Afinal, se nos
encontramos foi porque as energias se atraíram. Ninguém convive ou se encontra
por coincidência!
grata por compartilhar uma parte da sua vida......bjus.
ResponderExcluirParabéns pelo aniversário e pela humildade da partilha. É muito bom conhecer histórias de vida alicerçada pelo amor familiar. Saúde, sucesso e muitas bênçãos divinas em sua vida.
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